Fiquei um bom tempo sem ler quadrinhos Disney. Tinha acesso a eles, mas também muita preguiça. Porém, a monografia fez surgir uma vontade de ler os tais quadrinhos do império do senhor Walt. E foi em procurando nos gibis da minha irmã que encontrei a revista Aventuras Disney n°1. Fui eu tentar ler. Peguei a última história (não sei o motivo, mas sempre começo deste modo). Era uma tal de Patrulha Estrelar em: Encrencas Cinematográficas. Nela, Mickey, Pateta, Minnie e Clarabela se perdem em um planeta que é um imenso estúdio de cinema. Não consegui ler até o fim. Tive os mesmos sentimentos de quando moleque. Mas no outro dia ela estava lá novamente, implorando pela minha leitura. Não teve jeito. Acabei com ela. E no fim, ela acabou comigo. Toda a história se tornou interessante.
Os habitantes do planeta-estúdio eram escravos de um produtor que os obrigava a atuar nos filmes por ele designados. Obviamente só Mickey percebe isso, enquanto que seus amigos aceitam serem escravizados, mesmo com todos os avisos do rato. Mickey, com toda sua destreza, consegue libertar o povo do tal produtor. E aí que vem a parte interessante. Pra minha surpresa, o líder dos libertos desembucha um discurso cineclubista: “Não haverá produtores e sim um trabalho de criação coletiva! Vamos fazer nossos próprios filmes representando a nossa cultura! Veja bem, Mickey, não temos nada contra o seu tipo de cinema ou cultura, apenas queremos difundir a nossa! Acho que esse deve ser o objetivo de qualquer povo que se propõe a fazer cinema!” (grifo meu).
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Um discurso que vai de encontro ao que o cineclubismo propõe. Divulgar a própria cultura e se desalienar daquilo que é proposto pelo mercado. No documentário O que é Cineclube?, o cineclubista Araripe Júnior afirma que com o cineclube "o menino que nasce aprendendo a conhecer a sua cinematografia, ele tem um anticorpo contra o que está aí de avassalador, o que é empurrado na goela dele. Não é que a gente não quer o cinema do mundo inteiro. A gente quer o cinema do mundo inteiro, mas na dose certa.”
Mas e como esse discurso foi parar na revistinha do Mickey? Quadrinhos Disney são produzidos por várias editoras em diversos países, muitos mesmo não são avaliados pela matriz estadunidense. Houve uma época em que alguns eram produzidos aqui mesmo, pela editora Abril. E esta é uma delas. Inclusive os desenhos (e creio eu, o roteiro) são de um dos principais artistas brazucas, Moacir Rodrigues Soares. Não sei o quão realmente ele era envolvido com cinema, ou se esse discurso não tinha também como alvo os quadrinhos, porém Moacir mandou muito bem.
No fim, Mickey, com toda sua benevolência e compreensão, concorda com tudo. Uma pena que esse material provavelmente não será publicado nos Estados Unidos.
Baixe aqui a história completa.Via Quadrinhólatra
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