sexta-feira, 30 de julho de 2010

Eles são os co-autores da mostra competitiva do 9º SMVC


Os três jurados da seleção do SMVC 2010 - Fotos: Michelle Teixeira

Imagine três caras, três cabeças pensantes do cinema e da arte juntos, 24 horas por dia, durante quatro dias, assistindo a 300 produções audiovisuais, entre curtas e videoclipes... Essa foi a rotina dos júris de seleção do 9º Santa Maria Vídeo e Cinema desde a noite da última quarta-feira, Clenio Faccin, Alfredo Barros e Amarello Rodrigues.

O primeiro no auge de seus 65 anos e quase 50 de teatro, o segundo aos 42, produz audiovisual desde 1989, e o último com apenas 25 anos, mas que há mais de cinco trabalha com design gráfico, cinema e cineclubismo. Eles foram os escolhidos pela organização do festival para o processo inverso ao que estão acostumados a fazer. Gente que produz arte e cinema, participando agora da seleção.

Alfredo Barros cursou artes plásticas durante quatro anos, administração por dois, tem formação em jornalismo, mas encontrou no cinema sua realização. Atualmente trabalha como montador, no entanto já fez muita coisa antes disso.

Aprendeu a fazer cinema com cada etapa dessa história que começou há mais 20 anos. Alfredo foi câmera, trabalhou com edição, foi assistente de direção, assistente de montagem e enfim montador. Entre suas produções estão o longa “Bitols” e alguns especiais de televisão como “A Ferro e Fogo” e “Os 7 Pecados Capitais” da RBS TV, e “Um dos Três”, quadro do programa Fantástico da Rede Globo. Ainda será responsável pelo filme “Hamartia - Ventos do Destino” de Rondon de Castro, que está sendo filmado em Santa Maria.

Também montou diversos curtas como “A estrada”. Dentre todos, ele lembra com carinho especial do minimetragem que dirigiu em 2008. Nele sua filha, com 10 anos na época, registrava uma mensagem no computador para o pai enquanto descia as escadas de casa: “Era um recado para mim, pedindo que eu tivesse mais tempo para ela”. Alfredo conta que a produção foi como um pedido de desculpas: “Ela adorou, agora tenho que fazer um vídeo para minha filha mais nova”, brinca. O jornalista que aprendeu tudo que sabe de cinema na prática, agora dá aula. Já foi professor da Unisinos e da CINETVPR. Atualmente leciona no curso de publicidade da ESPM-RS.

“Quase meio século de vida dedicado à cultura em Santa Maria”, resume Clenio Faccin sobre a sua trajetória artística. Dramaturgo, ator e diretor teatral, Faccin é o criador do TUI – Teatro Independente de Santa Maria. Tem inúmeros espetáculos na bagagem apresentados no país e no exterior. Soma mais de dois milhões de expectadores ao longo de todos estes anos. O diretor lembra em especial de um espetáculo de 1968, cuja platéia contava com Pablo Neruda e o então secretário da cultura de Paris. Em um ano de agitação, de protestos e libertação cultural em todos os contatos do mundo, o jovem santa-mariense encenava sua transgressão nos palcos. Na produção cinematográfica Faccin realizou parcerias com Sérgio Assis Brasil, diretor santa-mariense falecido em 2007. Para o veterano artista “o cinema é o teatro no vídeo”.

Amarello Rodrigues é formado em Desenho Industrial - Design Gráfico pela UFSM. Há muito fazia “experiências audiovisuais em VHS” com amigos em casa, mas foi quando assistiu ao curta “1979” exibido no SMVC de 2004, que Amarello resolveu tornar a brincadeira profissional: “Eu me empolguei com o filme, mostrava a vida dos estudantes da UFSM e eu era um deles”. A partir daí ele não parou mais, fez o curso de Cinema Digital na UFSM e já na 5ª edição do Festival inscreveu seu primeiro curta, “Rock’n’Roll”, levando cinco prêmios pela mostra competitiva local.

Trabalhou também como editor e finalizador numa produtora da cidade, foi vice-presidente da Estação Cinema em 2006, onde produziu a compilação de vídeos: “Curtas Santa-Marienses Volume I”, um projeto pioneiro na cidade.
O jovem ainda é um dos idealizadores do coletivo “Pão com Ovo”, que deu seus primeiros passos em 2006. Neste projeto, Amarello juntamente com pessoas de diversas áreas e faculdades, co-dirigiu e co-produziu o DVD Diálogos com os curtas: “O que é Cineclube?”, “Toda Forma é Cinema” e “Movimento”. “Era gente de todos os cantos, conseguindo equipamentos para fazer os docs.”

Esses filmes foram exibidos em cineclubes do país inteiro, e ainda em países como Argentina, Portugal e Espanha. O coletivo Pão com Ovo tem um blog, onde colaboradores escrevem sobre cinema e assuntos ligados a área: “Tem gente em cada canto agora, então postamos coisas legais que queremos que todos assistiam”.

Tanto Alfredo, quanto Faccin e Amarello participam pela primeira vez do processo de seleção. Todos consideram uma tarefa complicada, mas acima de tudo um grande desafio: “É difícil julgar, temos que manter a calma e ter bastante atenção.

Nós estamos aqui para somar.”, diz o mais experiente da equipe. Alfredo que assim como Amarello, já enviou curtas a outras edições do SMVC, agora está do outro lado e considera um grande amadurecimento: “A gente vê que não tem uma teoria da conspiração”, brinca.
Não é sempre que os três entram em consenso, mas logo os diferentes argumentam solucionam o problema, como conta Alfredo: “Eu sou o cara da montagem, implico com isso. Já o Clenio é o especialista na atuação e o Amarello das animações, do processo de execução principalmente”.

Assim eles vão se acertando: “Cada um percebe a reação do outro, aí o pessoal pondera”, comenta Amarello. E assim foi a seleção do 9º SMVC, por quatro dias inteiros, em que eles tentaram manter uma representatividade de tudo que está sendo feito, de escolas, gêneros e localidades diferentes. “E a gente pensa no final: somos co-autores daquela mostra”, orgulha-se Alfredo.

Texto: Michelle Teixeira
retirado do site do SMVC.

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