Estréio no blog da Pão Com Ovo a convite do Bruno (o Kieling) pelo meu gosto para filmes de qualidade discutível. Sou aficionado por filmes de terror “trash”. Porém, a minha primeira indicação de trash tem apenas o fato de que tudo o que é mostrado concorda com a verdade. O filme chama-se Manda Bala (Send a Bullet – 2007/EUA) e foi dirigido pelo jovem documentarista americano Jason Kohn.
Trata-se de uma análise extremamente profunda e bem montada da onda de seqüestros na cidade de São Paulo no ano de 2006. Interligado problemas sociais às mazelas da sociedade Brasileira, como a corrupção e a indústria do crime, o filme consegue unir, em uma só teia de elementos, políticos, marginais, um médico e sapos.
- Trailer do Send a Bullet -
Manda Bala trouxe para uma leitura, digamos, mais obscena, a conhecida fraude da Sudam maquinada por Jader Barbalho e sua trupe de sonegadores, conectando as pontas de um processo corruptor que desvia o dinheiro das áreas mais pobres (no caso, do Pará) gerando êxodo no norte e nordeste brasileiros de novos favelados para Rio de Janeiro e São Paulo.
Nessa ligação há um toque de genialidade por parte do Diretor: uma fazenda de sapos. O caso é que Barbalho, enquanto coordenador da Sudam, costumava depositar polpudas “verbas de incentivo” na conta de uma determinada fazenda de sapos no Pará, fazenda essa de propriedade de sua mulher. O que Kohn, Jason Kohn, faz é entrevistar um criador de sapos de São Paulo e usar as imagens da linha produtiva dos anfíbios para permear toda a história do filme, com várias metáforas de bom gosto (coisa rara em se tratando de sapos: vide Magnólia) comparando a evolução de um girino à vida no Brasil.
Outro ponto peculiar e igualmente bem bolado, é a participação de um cirurgião plástico especializado em reconstrução auricular. Ele explica o processo que desenvolveu enquanto algumas entrevistas e imagens ilustram a prática comum em seqüestros de se mandar pedaços da orelha da vítima para a família, como prova de que o bandido é do mal. Algumas cenas de necessárias de vítimas berrando em pocilgas sendo filmados por câmeras VHS de cabeçote deveras sujo são apreciadas nessa parte do filme. Um detalhe legal de se notar é que o cirurgião, assim como empresas que blindam carros ou especialistas em segurança que oferecem cursos de defesa anti-seqüestros, são ramos novos no mercado, gerados pela indústria do crime e que têm acesso restrito às camadas mais ricas da população.
Em dado momento do filme o volume de informação, virado na cabeça do expectador em um carrinho de mão cheio de sapos, juízes, policiais e orelhas começa a fazer sentido de uma forma desconfortavelmente óbvia. O diretor mesmo sendo um americano, tem uma visão da sociedade de 3° mundo brasileira bastante lúcida e sem exageros. Jader Barbalho é entrevistado e está bem, seu povo está mal, as vítimas dos seqüestros não podem usar brincos e os sapos são fritos à milanesa.
Manda Bala é um filme não exibido nos cinemas e nem lançado em DVD para o Brasil. Legal, né? No Iniciozinho do filme uma frase aparece na tela: “A film that cannot be shown in Brazil”. Será que foi o Jader Barbalho que barrou o filme ou os realizadores ficaram com medo de que suas orelhas fossem decepadas lá nos EUA? Sei lá, só sei que o documentário é irritantemente esclarecedor e nos mostra que somos todos sapos criados por Barbalhos (bonito isso!).
Trata-se de uma análise extremamente profunda e bem montada da onda de seqüestros na cidade de São Paulo no ano de 2006. Interligado problemas sociais às mazelas da sociedade Brasileira, como a corrupção e a indústria do crime, o filme consegue unir, em uma só teia de elementos, políticos, marginais, um médico e sapos.
- Trailer do Send a Bullet -
Manda Bala trouxe para uma leitura, digamos, mais obscena, a conhecida fraude da Sudam maquinada por Jader Barbalho e sua trupe de sonegadores, conectando as pontas de um processo corruptor que desvia o dinheiro das áreas mais pobres (no caso, do Pará) gerando êxodo no norte e nordeste brasileiros de novos favelados para Rio de Janeiro e São Paulo.
Nessa ligação há um toque de genialidade por parte do Diretor: uma fazenda de sapos. O caso é que Barbalho, enquanto coordenador da Sudam, costumava depositar polpudas “verbas de incentivo” na conta de uma determinada fazenda de sapos no Pará, fazenda essa de propriedade de sua mulher. O que Kohn, Jason Kohn, faz é entrevistar um criador de sapos de São Paulo e usar as imagens da linha produtiva dos anfíbios para permear toda a história do filme, com várias metáforas de bom gosto (coisa rara em se tratando de sapos: vide Magnólia) comparando a evolução de um girino à vida no Brasil.
Outro ponto peculiar e igualmente bem bolado, é a participação de um cirurgião plástico especializado em reconstrução auricular. Ele explica o processo que desenvolveu enquanto algumas entrevistas e imagens ilustram a prática comum em seqüestros de se mandar pedaços da orelha da vítima para a família, como prova de que o bandido é do mal. Algumas cenas de necessárias de vítimas berrando em pocilgas sendo filmados por câmeras VHS de cabeçote deveras sujo são apreciadas nessa parte do filme. Um detalhe legal de se notar é que o cirurgião, assim como empresas que blindam carros ou especialistas em segurança que oferecem cursos de defesa anti-seqüestros, são ramos novos no mercado, gerados pela indústria do crime e que têm acesso restrito às camadas mais ricas da população.
Em dado momento do filme o volume de informação, virado na cabeça do expectador em um carrinho de mão cheio de sapos, juízes, policiais e orelhas começa a fazer sentido de uma forma desconfortavelmente óbvia. O diretor mesmo sendo um americano, tem uma visão da sociedade de 3° mundo brasileira bastante lúcida e sem exageros. Jader Barbalho é entrevistado e está bem, seu povo está mal, as vítimas dos seqüestros não podem usar brincos e os sapos são fritos à milanesa.
Manda Bala é um filme não exibido nos cinemas e nem lançado em DVD para o Brasil. Legal, né? No Iniciozinho do filme uma frase aparece na tela: “A film that cannot be shown in Brazil”. Será que foi o Jader Barbalho que barrou o filme ou os realizadores ficaram com medo de que suas orelhas fossem decepadas lá nos EUA? Sei lá, só sei que o documentário é irritantemente esclarecedor e nos mostra que somos todos sapos criados por Barbalhos (bonito isso!).
(Como o filme não foi lançado em DVD no Brasil, você pode baixá-lo, sem culpa nenhuma, clicando aqui)
2 comentários:
Baita dica, fiquei tri curioso pra ver o filme.
Peço desculpa pela incompetência na formatação do post!
O próximo é sobre o Evil Dead!
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