Eu acho que vi um gatinho... Carine Prates
Marcelo Engster
Gatos e felinos sempre freqüentaram assiduamente as Histórias em Quadrinhos e a animação, por vezes caçando ratos e pássaros, sendo simples coadjuvantes ou até mesmo agindo como humanos. Garfield e sua preguiça, o psicodélico Felix, o contestador Manda-Chuva, Haroldo e sua paciência para com Calvin dão famosas ronronadas por estas bandas.
Robert Crumb também deu sua contribuição as fantásticas histórias felinas, ao criar o gato Fritz, que a princípio era uma inocente homenagem aos personagens da Disney. Crumb começou a desenhar ainda criança, por exigência de seu irmão mais velho, para que tivesse alguma utilidade para a sociedade. Passou então a usar suas histórias como uma alternativa de fuga do ambiente familiar conturbado: seu pai era extremamente violento e sua mãe era viciada em anfetaminas. Mais tarde, na adolescência, Crumb, muito tímido, desenhava para evitar o contato com o resto do mundo. Todo esse ambiente contribui para o “amadurecimento” de seu gatinho Fritz, que além de deixar de ser quadrúpede, personificou-se num jovem estudante universitário, bêbado, drogado, mulherengo e avesso aos chamados bons costumes. Fritz já tinha perdido sua condição de tributo à seus companheiros ratos. Ele tornou-se uma crítica ferrenha, tanto à sociedade quanto à contracultura. Nada escapava dele, dos anticomunistas e James Bond aos revolucionários e filósofos, tudo era um alvo em potencial para sua sátira.
O gato Fritz começou a ser publicado nos anos sessenta na revista Help! e até o fim da década já era o maior personagem dos quadrinhos alternativos. Todo esse sucesso resultou no longa-metragem “Fritz, The Cat” (1972), dirigido por Ralph Bakshi. O filme, generoso em sua polêmica, foi a primeira animação proibida para menores. Repleto de palavrões e ousadias sexuais, o filme é uma autêntica visão do que foi a efervescência dos anos 60 e início dos 70. Em sua galeria de personagens não faltam criticas a sociedade da época, ao retratar os negros do Harlem (corvos) com toda sua fíria e problemática, os meganhas corruptos (porcos), os diferentes tipos de mulher (desde a gatinha até a burra) e até mesmo o mundo judaico (há uma passagem em uma sinagoga).
A versão cinematográfica de Fritz foi sucesso de bilheteria. Com isso Crumb passou ser visto com um herói da juventude rebelde dos anos 60, comparado até mesmo a Bob Dylan e consequentemente alvo do assédio da Indústria Cultural. Revoltado com a situação, Crumb fez aquilo que muitos astros pop prometeram e não cumpriram: virou as costas ao sucesso e matou sua personagem mais popular, Fritz.
O que começou como uma homenagem à Disney, acabou se tornando a obra máxima dos quadrinhos alternativos, ou seja, dos gibis que representam bem o contrário daquilo que prega a empresa de Mickey Mouse. É, Crumb conseguiu, e muito, ter alguma utilidade para a sociedade.
Gênero: Comédia / Desenho
Diretor: Ralph Bakshi
Duração: 78 minutos
Ano de Lançamento: 1972
País de Origem: EUA
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Este artigo foi escrito em parceria com a estudante de publicidade Carine Prates. Faz parte do livro "Uma História a Cada Filme: Volume 2". A obra é organizado por Alexandre Maccari Ferreira, Diorge Alceno Konrad e Rogério Ferrer Koff e é publicado pela
Facos-UFSM. Pode ser encontrado na
Cesma.
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