Quanto mais quente melhor (Some like it hot) lançado em 1959 é na realidade um remake de Fanfaren der liebe [Fanfarras do amor], um filme alemão dirigido por Kurt Hoffman e lançado em 1951 na Alemanha. Billy Wilder e I. A. L. Diamond (que trabalhou com Wilder em diversos projetos) adaptaram o roteiro da história do filme de Kurt Hoffman, adicionando os gângsteres. Assim como Quanto mais quente melhor surgiu de outro filme, uma peça para a Broadway chamada Sugar foi adaptada do filme de Wilder.
Vencedor do Oscar de melhor figurino em 1960 e considerada pelo American Film Insitute (em 2000) a melhor comédia de todos os tempos. Inicialmente o filme havia sido planejado para ser filmado em Technicolor, no entanto devido a grande quantidade de maquiagem necessária em Tony Curtis e Jack Lemmon enquanto interpretavam Joe e Jerry vestidos de Josephine e Daphne a imagem ficava esverdeada.
O filme conta a história de Joe e Jerry, dois músicos perseguidos pela máfia por terem testemunhados o fuzilamento do responsável pela fiscalização em um bar que vendia bebidas alcoólicas em Chicago, 1929. Para fugir da máfia, dívidas e a procura de dinheiro para comida eles vestem-se como mulheres e entram para uma banda feminina que tocará no outro lado do país. Na banda conhecem Sugar Kane que é interpretada por Marylin Monroe. Sugar se diz burra e diz apaixonar-se por saxofonistas, como Joe, sem muita razão. O filme inteiro é a relação destes três personagens que são na verdade seis: Sugar, Josephine, Daphne, Joe, Jerry e "Shell Júnior".
A primeira cena do filme mostra um carro aparentemente fúnebre, em instantes o carro começa a ser alvejado pela polícia e podemos perceber que há algo diferente ali, quando o caixão é mostrado cheio de furos e vazando bebidas podemos situar a história geográfica e temporalmente através de um letreiro: Chicago, 1929. Agora entendemos: está em vigor a lei seca e o carro fúnebre é um disfarce para os gângsteres. Antes mesmo de conhecermos os protagonistas o humor já é evidenciado na falta de discrição para entrar no bar onde é vendida a bebida. Por ter sido o pioneiro em grande parte das piadas hoje usadas amplamente de desenhos animados até a comédias escrachadas o filme não fica ridicularizado com tais clichés, muito pelo contrário, é interessante ver como surgiram tais situações que hoje são tão mal reproduzidas.
Na primeira aparição dos personagens já é evidenciado o caráter de cada um, o rápido corte para as pernas das dançarinas nos dá idéia de qual o foco de Joe enquanto Jerry está pensativo. No primeiro diálogo a reiteração disso: enquanto Jerry questiona se receberão e que pretende ir a um dentista, Joe o lembra de que estão devendo a muitas pessoas e depois o convence a gastar o dinheiro apostando em corrida de cachorros.
Na batida policial vemos a mão de Billy Wilder em situações que criam um humor sutil tal como Jerry e Joe fugindo com seus instrumentos por trás dos policias enquanto estes apreendem as dançarinas. Outras situações procedem com a mesma sutileza e é por este motivo que o filme, apesar de certamente não causar tanto impacto como em 1959, ainda tem piadas que funcionam muito bem quase 50 anos depois de seu lançamento.
Ao ser abordado o gângster chefe, Spats, cuja tradução seria “Polainas” uma piada perdida devido à tradução, apresenta seus quatro advogados que ao levantarem-se impõem uma hostilidade que é reforçada através da fotografia deste plano. O corte para uma nova cena logo após este ato deixa implícito que Spats sairá ileso desta grande operação em seu próprio bar.
A apreensão das pessoas é procedida pela fuga dos músicos, a tensão criada pela incerteza do sucesso da fuga é quebrada pela preocupação de Joe: "quanto valem os casacos?" ao falar para Jerry de sua intenção o fade out no meio da fala de Jerry mostra que qualquer que fosse seu argumento ele não era forte o suficiente para convencer o amigo picareta. A cena seguinte onde os dois estão na rua, com cabelos cobertos de neve dá o desfecho da discussão e o posterior fracasso na aposta.
As sutilezas no filme demonstram o quão bem feito ele é, não há diálogos sobrando nem cenas desnecessárias. A montagem é realmente muito bem feita e tem seu ponto alto na montagem paralela existente entre a cena de Shell Júnior e Sugar e a de Daphne e Osgood, o clima cômico dá-se devido a grande diferença dos dois casais, enquanto Sugar tenta "amaciar" Shell Júnior que está com o coração partido, Osgood tenta uma abordagem mais sexual em Daphne que o mantém na linha. Há também momentos de tensão criados pela montagem, quando Joe está correndo para encontrar Sugar no barco de Osgood, ele fica 13 planos com os brincos de Daphne e só os retira na iminência de Sugar entrar no barco. Essa tensão criada prende o espectador pois o desfecho da ação irá criar uma emoção muito diferente: se ele esquecer de retirar os brincos ou terá uma desculpa muito esfarrapada e Sugar aceita, assim criando um tom cômico, ou ela descobre toda a verdade, dando um tom mais dramático ou, como procedeu, ele percebe e retira os brincos, criando um alívio no espectador, deixando-o despreparado para a próxima situação: como dirigir um barco que não é seu? A desculpa de Shell Júnior só pode ser aceita por Sugar mesmo.
O final do filme é clássico: os casais acabam juntos para um futuro completamente incerto: Joe com Sugar e Jerry com Osgood, a frase "ninguém é perfeito" de Osgood o aproxima de Sugar, no final ele realmente só queria alguém para o acompanhar. O final é fechado e só não cobre a situação de como prosseguirá este novo casal gay, abordado muito sutilmente no filme para criar críticas sociais. A crítica à sociedade fica em Joe dizendo para Jerry repetir "eu sou um garoto" após o encontro deste com Osgood enquanto ele está claramente apaixonado idealizando o futuro com seu noivo, assim como a sociedade que tenta impor um comportamento padrão.
Para os padrões sociais atuais o filme é uma diversão para "quase toda" a família, classificado como inadequado para menores de 12 anos certamente as crianças acharão graça nas cenas hoje tão difundidas em desenhos animados sendo atuada por pessoas, entretanto no lançamento do filme a "Catholic Legion o Decency" [Legião católica da decência] classificou o filme como C de condenável.
Resenha escrita para a disciplina de História do Cinema I do curso de Produção Audiovisual da PUC-RS em 29 de maio de 2008.
Um comentário:
"Catholic Legion o Decency" [Legião católica da decência]
huahuahau,
essa eu não conhecia
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